Na misteriosa lagoa Gaúcha, não há barcos navegando porque existe um redemoinho cuiudo suga tudo para o fundo, feito de areia movediça; também não existe peixes nela, e sim uma cidade submersa que faz brotar da água a cruz da sua igreja em tempos de seca, o terrível fantasma de uma noiva morta e até o monstro Loch Ness bagual.
Quando os viventes vão curtir o verão no litoral, indo pela freeway - aquela que é uma beleza de paisagem, são histórias que perpetuam há décadas e até hoje intrigam.
A origem da superstição remonta a um crime ocorrido na década de 1940 nas cercanias da antiga — e mal-assombrada? — usina Açúcar Gaúcho S/A (Agasa), cuja velha chaminé desativada também pode ser vista da rodovia.
A usina funcionou até o ano de 1989, o funcionário Milton Nunes, hoje com 68 anos, trabalhou no prédio vazio até 2003, quando se aposentou. Foi nesse período que conheceu O TERROR. Ele era vigia do patrimônio abandonado. Um momento de sua ronda noturna era apavorante. Tratava-se de uma passagem entre os prédios. Quando a percorria, os cabelos ficavam em pé.
— Era ela que estava ali — recorda.
Ela, a noiva. Maria Luísa foi morta pelo noivo há cerca de 70 anos e teve o corpo jogado na lagoa. Desde então, assombra a rodovia nos arredores da Agasa, próximo ao local do crime. As vítimas preferidas são caminhoneiros. Muitos dizem tê-la visto passeando pela freeway, de vestido branco. A experiência não deve ter sido legal, já que alguns deixaram de trafegar por ali. A noiva que perambula também virou desculpa para acidentes, o que a polícia sempre desconfia e atribui a aparição a outras causas, como a sonolência que leva a sonhar acordado com noivas mortas — e a sair da estrada e quase espatifar o caminhão.
Até hoje dá o ar da graça a caminhoneiros e moradores da região, juram eles.
> A cidade submersa: uma cidade existia no lugar da lagoa em tempos imemoriais. Qual Sodoma e Gomorra, foi punida com a extinção. Hoje, quando o nível da água baixa, dizem que a cruz da igreja aparece. A lenda derivou para outra suposição. No local haveria um campo de instrução militar, e a cruz seria uma marcação para tiro. Aeronáutica e Exército não confirmam.
> O monstro: obviamente uma lenda assim iria surgir. Faça uma busca no YouTube e você encontrará o vídeo do peixe monstro da Lagoa dos Barros. Assista e decepcione-se com um peixinho que abre e fecha a boca múltiplas vezes.
> O redemoinho mortal e a ausência de navegação: sério, você já viu algum barco navegando na Lagoa dos Barros? Nem eu. E isso não é por nada. A ventania ali é tão forte que as embarcações são jogadas para lá e para cá ao sabor do vento. Acabam virando e, se a pessoa está sem colete salva-vidas, pode morrer. O efeito do jogo do vento se assemelha a um redemoinho tragando tudo. Não é por acaso que o Parque Eólico foi construído na região.
> A areia movediça: o fundo da lagoa é lodoso. Por isso teria recebido o nome Barros (na verdade, leva o nome de um dos primeiros moradores da região, Manoel de Barros Pereira). Não há registro de areia movediça submersa. Ao menos ninguém voltou para contar.
> Ligação subterrânea com o mar: é o que se fala para explicar o aspecto turvo da água e as ondas formadas em dias de temporal além do tamanho da lagoa, que tem cem quilômetros quadrados e profundidade de até sete metros. Dizem que quando a maré baixa, o nível da lagoa acompanha. Pesquisadores já encontraram vestígios marinhos no local, ligados a um passado remoto em que a área da lagoa fazia parte de uma grande baía.