Muita gente, quando se fala na história da Pampa pré-colonial, repete o dito oficial de que "estas terras tinham fronteiras indefinidas antes de pertencerem ao Brasil".
Esse é o argumento do invasor. Mas a questão é: "indefinidas" para quem?
Talvez as fronteiras fossem indefinidas entre Portugal e Espanha, mas nestas terras já havia índios e, depois, um Povo Gaúcho com uma cultura e uma forma de vida bem definidos, espalhados por o que hoje é Uruguay, Argentina e Rio Grande do Sul.
O Braziu(*) invadiu a Pampa, cometendo todo tipo de massacre. Os brasileiros exterminaram os índios nas Missões Jesuíticas, que resistiram até o final, quando o 1º herói da história gaúcha riograndense, cacique guarani Sepé Tiarajú, gritou "Co yvy oguereco yara!" (Esta terra tem dono!).
Mais tarde, o império brazuka estendeu-se até o Uruguay, derrotando José Gervásio Artigas (com seu exército de resistência formado por gaúchos e índios charruas) em Tacuarembó e chegou a Montevideo, nomeando aquelas terras como Província Cisplatina.
Os gaúchos resistiram e pelearam contra os invasores brasileiros até conquistarem a independência do Uruguay, em 1825, e da República Rio-Grandense, em 1836. Mas infelizmente o Rio Grande do Sul não teve a mesma sorte que nossos hermanos uruguayos, e o exército caramuru(**) derrotou os farrapos, reinvadindo o RS em 1845.
Talvez o maior erro cometido pelos gaúchos riograndenses foi não terem aceitado a ajuda militar oferecida pela Argentina contra o exército imperial brasileiro, por pensarem que poderiam vencer sozinhos.
Ainda hoje nós gaúchos temos uma Pampa dividida, devido à invasão brasileira que nos desgraça e nos torna escravos de um país para o qual mandamos a maior parte das nossas riquezas (70% dos impostos são enviados para Brasília, enquanto apenas 25,5% ficam no Estado e tão somente 4,5% permanecem no Município. Fonte:https://brasilfatosedados.files.wordpress.com/20…/…/7-14.png).
Mas o ideal de Artigas, da construção de uma Pátria Gaúcha livre, permanece vivo entre os gaúchos. E isso explica o que é visto erroneamente pelos brasileiros como simples "bairrismo", e que faz com que o povo do RS tenha um desejo separatista histórico ainda não resolvido, um sentimento muito forte de apego ao próprio Estado ao mesmo tempo que a não-aceitação da nacionalidade brasileira.
Esse (res)sentimento tem fundamento histórico. Tem causa e efeito. E por mais que o Braziu imponha o seu centralismo político e sua cultura, o espírito libertário no RS é como palha seca pronta para pegar fogo... E não falta quem esteja listo para encender a chama!
* Brazil, ou Braziu: é a forma como se escreve "Brasil" no gauchês do Rio Grande do Sul.
** Caramuru: forma como os gaúchos riograndenses chamam os brasileiros.
